Ainda no Hostel, na nossa terceira manhã por aqui, tomamos café da manhã com os outros hóspedes.
As opções de comida eram bem caseiras e o sol que entrava pelas janelas deixavam o clima bucólico naquela sala de paredes pintadas de amarelo.
Nos servimos e nos sentamos, planejando como seria a nossa agenda do dia. Essa noite já passaríamos em Niterói.
A televisão estava ligada, com o som bem baixo, passando um telejornal desses de manhãzinha. A repórter falava de frivolidades, daquelas que eles apresentam sorrindo num tom de informalidade.
De repente cortou para o próximo quadro e não dava pra acreditar no que se passava: era algo do tipo "agora vamos ao vivo para a entrada da comunidade tal, onde o BOPE está em confronto com os traficantes do local..."
O repórter que estava lá falava como se fosse um correspondente de guerra e as cenas que serviam de fundo para a sua narrativa pareciam saídas de um filme. Eu não conseguia acreditar que tudo aquilo estava se passando "ali do lado", sem que ninguém parecesse tomar conhecimento.
A janela que deixava ver a rua em frente estava bem ao lado do aparelho de TV e eu olhava para os dois sem compreender como em um estava passando um tiroteio, enquanto na outra as pessoas iam e vinham felizes, com seus cachorros, jornais e sacolinhas de pão.
A recepção do lugar e a mesa do café da manhã que ficava bem entre ela e a passagem para os quartos, mas parecia uma Torre de Babel, gente de vários lugares do Brasil e de tantos outros países do mundo... todo mundo alheio às imagens transmitidas. Conversamos com umas meninas de Brasília e demos umas dicas de passeios turísticos para elas. Trivial...
A repórter disse que voltariam ao local em caso de novas notícias. Anunciaram o intervalo comercial e, com essa normalidade, começaram os malabarismos da mídia em vender de tudo com as propagandas que variam das mais criativas às mais absurdas.
Comecei a entender... nem tudo o que acontece no Rio, "acontece com todo mundo", muito se acompanha pela TV e nem parece verdade local. "Babilônia" fez sentido!
A discordância de número é o que garante a descrição da realidade: O Rio são muitos.
O SEGREDO QUE QUEIMA MINHA ALMA
Há 5 dias